Freguesia de Santiago

Localizada na periferia da sede do concelho, ocupando uma superfície com uma área de 7,7 quilómetros quadrados, Santiago é uma das mais importantes freguesias de Seia. Atravessa-a a estrada nacional que liga Coimbra à Guarda, lconferindo-lhe uma grande dinâmica.

A freguesia é constituída por quatro povoações: Santiago, a sede – Maceira (com Vila Branca, considerada Restelo de Seia) – Folgosa da Madalena e Folgosa do Salvador. Povoações de grande antiguidade, todas elas são mencionadas no “Cadastro da População do Reino”, mandado efectuar por D. João III em 1527. Folgosa do Salvador era então o mais populoso lugar da actual freguesia com 29 fogos. Seguiam-se-lhe Santiago, 27, Folgosa da Madalena, 22, e Maceira com 7.

A Maceira já vem citada no “Tombo de Demarcação da Vila de S. Romão”, feito por D. Afonso Henriques e extraído de um livro de Inquirições efectuadas por D. Afonso III em 1258. Por ali passava o limite entre Seia e S. Romão, cujo couto “est per pedrois et istum coutum est per portum de Maceria”. O couto ia pelas pedrarias e daí ao porto de Maceira, onde passava a estrada romana que vinda de Vila Chã atravessava a ponte de Salvador, dirigindo-se por Crestelo ao Castro de S. Romão.

Em Folgosa do Salvador ainda se pode ver a ponte romana sobre o rio Seia, e que por certo, seria a passagem da via que vinha de Viseu em direcção à Civitas Sena, localizada na actual povoação de Nogueira. De dois arcos, a ponte tem 3 metros de largura, fora as paredes laterais que medem 50 centímetros cada uma. A cerca de 30 metros do rio, está um marco de pedra com inscrições gravadas em 8 linhas. Segundo o povo, trata--se dum monumento comemorativo de uma grande cheia do rio que atingiu aquele local.

A Folgosa da Madalena vem mencionada num documento da Santa Casa de Misericórdia de Seia, datado de 1631, onde se lê que estava obrigada ao pagamento de foros àquela instituição. Nesta povoação, a 17 de Fevereiro de 1886, nasceu o grande poeta e contista popular Miguel Dias Leitão. Caso raro de lucidez, viria a falecer no dia 23 de Outubro de 1980 com a bonita idade de 95 anos, após uma vida de intensa colaboração em vários jornais da região. No ano de 1971 publicou “Recordações”, uma colectânea de poemas sobre os mais variados temas populares, religiosos, regionais e familiares.

A vida paroquial desta freguesia, esteve ligada, desde muito cedo, à da sede do concelho, pois Santiago era da Colegiada de Santa Maria, já distinguida por grandes honras no foral de 1136. António Tavares de Távora, autor do “Epítome de Santa Antonina de Cêa”, escreveu, sobre a Colegiada: “Preside na mesma igreja um Reitor posto por Sua Magestade, um Coadjutor e um tesoureiro a que apresenta o dito Reitor com mais cinco igrejas que rendem igualmente com a reitoria”. Uma delas, era a de Santiago que só viria a conseguir autonomia posteriormente a 1755.

A igreja matriz de Santiago é um templo de grande antiguidade com um altar-mor de magnífica talha renascentista. Nos altares laterais, admiram-se azulejos quinhentistas. Na freguesia existem ainda outros edifícios de culto, como a Capela de Santo Amaro, situada no alto de um monte, com festa em honra do padroeiro, realizada no mês de Janeiro, a Capela da Maceira, consagrada à Senhora das Neves, a Capela de S. João Baptista, pequena e muito cuidada, e a Capela do Salva-dor, sob a invocação de S. Marcos.

Em termos de arquitectura civil, destacam-se alguns edifícios solarengos, como sejam a casa brasonada de Folgosa do Salva-dor, o solar, também brasonado, em Maceira, e que foi dos Abranches de Magalhães, a casa solarenga de Folgosa da Madalena, e na povoação de Santiago, o solar de um dos ramos dos Ferrões Castelo Branco.

A maior parte das terras da freguesia são muito férteis e produzem em abundância, com realce para o milho, batata, azeite, vinho e forragens. É bastante notável a incidência pecuária aqui registada, produzindo-se em Santiago o melhor queijo da serra desta região. No livro “O Queijo da Serra”, Alberto Marinho refere que no ano de 1972 existiam aqui 614 ovelhas e cabras, para oito anos depois, esse número baixar para 369.

A freguesia de Santiago está indelevelmente ligada a esse grande vulto que deu pelo nome de Afonso Costa, por muitos considerado como o homem que derrubou a monarquia portuguesa, o chefe único e alma mater da República.

Nascido em Seia, o seu baptismo foi celebrado na igreja de Santiago, depois de ter sido abandonado à porta de uma moradora local: “No dia 7 de Março de 1871 foi baptizado em Santiago uma criança encontrada às nove horas da noite do dia 6, à porta de casa de Maria de Jesus... Num bilhete se pedia que lhe fosse posto o nome de Afonso Maria Ligório”.

Fonte: Dicionário Enciclopédico das Freguesias, 3º Volume.